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A ARTE DE SER AVÓ

Raquel de Queiroz

...Quarenta anos, quarenta e oito. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações - todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.

Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.

Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.

E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis...

domingo, 17 de abril de 2011

RESUMO 3

Disciplina: Tendências Contemporâneas de Currículos
Profª Drª. Rita de Cássia M. T. Stano
Aluna: Ângela Maria Azevedo Morais / Ana Carolina Carneiro Lopes


 

A CRISE DA MUDANÇA DOS CURRÍCULOS - Cap. I
GOODSON, Ivor
            Examinando uma série de casos propus um modelo de ondas de mudança em que um período mais aberto, inclusivo e democrático é muitas vezes seguido por um movimento contrário mais reacionário

            Um dos estudos de casos mais detalhados e completos da mudança no ensino em uma única instituição durante um período significativo de tempo é o estudo de Smith e seus colegas sobre a Escola Kensington (Smith et al. 1986, 1987, 1988)

             No começo de um estudo que iria se prolongar por um quarto de século, Smith, Prunty, Dwyer e Kleine predisseram com uma precisão extraordinária que essa escola inovadora, de plano aberto e ensino por equipe, com um processo decisório democrático e estudantes organizados em divisões e não por séries iria, no final, recuar para o mesmo nível das outras escolas do distrito. Esse retrocesso, disseram eles, seria resultado da pressão da comunidade das mudanças na administração dos escritórios centrais e das mudanças de pessoal em outros níveis escolares. Estudos de caso históricos e longitudinais desse tipo servem como um sério aviso para aqueles que podem ter a tendência de se tornarem otimistas demais sobre os esforços contemporâneos de mudanças no ensino quando são examinados apenas instantâneos dos primeiros estágios dessas mudanças (ex.: Lieberman, 1995, Wasley, 1994). O que é preciso agora é um conjunto de pesquisas históricas e longitudinais de mudanças escolares em uma variedade de locais, em que as trajetórias das mudanças e as condições em que são baseadas também variem.

            A grande virtude de examinar a teoria da mudança curricular e as iniciativas de mudança nesse momento é que isso nos permite examinar minuciosamente hoje em dia uma simples maneira de expressar esse paradoxo seria dizer que o atual modelo de posicionalidade  está tão invertido que nossa premissa normal de que as forças progressistas devem estar a favor da mudança precisa ser examinada seriamente. Como veremos, essa premissa é, no melhor dos casos, ingênua e, no pior deles, intencionalmente mal orientada.

            Em momentos difíceis, quando as forças globais estão estimulando a reestratificação e a rediferenciação, a mudança pode ter um lado muito pouco desejável. Com isso, os teóricos e defensores da mudança irá exercer seu efeito. Pois, se não levarem a cabo essa investigação poderia estar promovendo mudanças que tem efeitos sem diferentes daqueles que possam estar desejando.
A mudança, longe de ser progressista, poderia ter o efeito oposto.

            Atualmente, essa escolha do momento para as iniciativas de mudança é extremamente problemática devido as forças globais que já consideramos. É bem possível que, nos tempos atuais, as forças progressistas devessem estar a favor da mudança.
            No entanto, o pêndulo agora está oscilando na direção de uma preocupação crescente com as desvantagens sociais da desregulamentação do mercado.

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