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A ARTE DE SER AVÓ

Raquel de Queiroz

...Quarenta anos, quarenta e oito. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações - todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.

Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.

Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.

E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis...

domingo, 17 de abril de 2011

RESUMO 4

Disciplina: Tendências Contemporâneas de Currículos

A Crise Educacional Brasileira
Anísio S. Teixeira

            Para fazer a análise da crise educacional brasileira primeiramente temos que definir a educação como função normal da vida social e caracterizar os motivos pelos quais, além dessa educação, buscamos dar aos indivíduos educação formal e escolar.
            A situação escolar brasileira passa por diferentes momentos históricos, políticos, econômicos e sociais; tentando atender a sociedade e acompanhando o desenvolvimento do Brasil. A educação atualmente e suas instituições sofrem a pressão de forças populares e a população deseja mais educação escolar, melhor e mais eficiente.
            No século XVIII, a escola tinha por finalidade manter e desenvolver a cultura intelectual e artística da humanidade, preparando apenas um pequeno grupo de especialistas do saber e das profissões de base científica e técnica. Não havia preocupação com a formação do caráter do cidadão, não visava formar o trabalhador, mas formar o intelectual, o profissional das grandes profissões sacerdotais e liberais, o magistério superior, manter a cultura intelectual distinta da cultura geral do povo.
            Um dos resultados dessa vida intelectual foi a ciência, que veio revolucionar os métodos de trabalho e de vida do homem. Surge então a necessidade de uma nova escola para atender a sociedáde e tem o objetivo de preparar o homem comum para o trabalho, suficientemente técnico para exigir também treinamento escolar especial. A nova escola teve que utilizar a tradição e os métodos das antigas escolas; tendo, portanto, seu caráter Iivresco e intelectual.
            No final do século XIX, o mundo começa a rever e transformar essa situação percebendo que a formação do homem comum não podia obedecer aos mesmos métodos de formação de uma classe especial de intelectuais e estudiosos. A escola tradicional somente teria eficiência para um tipo de aluno a quem serviria: literários ou cientistas; tornando-se inútil para a maioria de seus alunos.
            A reforma dessa escola está acontecendo em todo mundo.   cada escola passa a procurar servir mais
diretamente aos seus fins, independente de preconceito social ou intelectual.
            As escolas passaram a ter dois objetivos: a formação geral e comum de todos os cidadãos e a formação dos quadros de trabalhadores especializados e de especialistas de toda espécie exigidos pela sociedade moderna.
            A escola não pode mais ser modelada nos antigos padrões acadêmicos, seus moldes passam a ser a própria vida em comunidade. A escola comum passa ser formadora de hábitos sociais e mentais, a escola especializada se habilita para a imensa variedade de trabalho e nela se encontra ainda a velha tradição acadêmica e escolástica.
            Estamos passando ao período correspondente a segunda metade do século XIX na Europa. A opinião pública está a exigir escolas para todos. Há certo orgulho nos aspectos quantitativos da educação e a pressão se faz tão intensa, que até a limitação de matrícula se torna difícil ou impossível.
            Porém o esforço de civilização da situação escolar brasileira constitui um esforço de transplantação das instituições e tradições européias. A tentativa de suprir as necessidades da realidade brasileira com a transplantação de padrões europeus acostumou-nos a viver em dois planos: o real, com suas particularidades e originalidades; e o oficial, com os seus reconhecimentos convencionais de padrões inexistentes.
            Enquanto fomos colônia, tal duplicidade seria natural. Mas a independência não nos curou, continuamos a ser uma nação de dupla personalidade. A lei e o governo não eram resultantes de situações concretas, mas algo mágico, capaz de transformar as coisas. Temos que sair de um estado de ficção institucional para o da realidade institucional.
            Durante anos nos submetemos a viver esses dois planos: real e o oficial e o fenômeno a registrar era sempre o mesmo: a escola, como instituição de cultura, não era realmente exigida e imposta pelo meio brasileiro, era transplantada, mas, logo depois, entrava a se deformar e a se reduzir às condições do ambiente e era vencida pela tendência de se deteriorar.
            Nada disso aconteceria se a educação fosse um processo de preparação real para a vida e de nada valeria burlá­Ia. Daí o crescimento desordenado e anárquico das escolas e a ameaça em que nos achamos de ver todo o sistema escolar brasileiro transformado em uma farsa e uma simulação.
            A crise educacional brasileira é, assim, um aspecto da crise de readaptação institucional. A escola transplantada sofreu deformações que a desfiguraram e a levam a assumir funções não previstas nas leis que a buscam disciplinar.

Momentos vividos pela educação:
-Educação escolar voluntária e destinada àqueles que dispunham a recebê-Ia.
-Escola mantida pela Igreja.
-Século XIX, Estado entra maciçamente a interferir na educação escolar, considerado necessário para a nova vida em comum, complexa e progressiva, da civilização industrial moderna.

-Continua a existir a educação de classe, divisão de classes que vem chocar com as aspirações democráticas, igualdade de oportunidades para todos.
-A fusão dos dois sistemas escolares veio realizando em todos os países.
-Houve revisão de métodos e programas, devido as escolas chamadas populares.
-Aluno terá as oportunidades que sua capacidade determinar.
- Ensino propedêutico. O que iria acontecer com quem não tivesse condição para ingressar ensino secundário e superior?
-Tal duplicidade e incongruência legislativa deu como resultdo afluxo dos alunos para escolas secundárias.
-Ensino secundário largada para iniciativa particular.
-A educação e as suas instituições se preocupam com passagem em exames.


-A nação não podia se limitar a esse tipo de ensino.
-A escola demonstra sua insatisfação e começa a lutar para melhorar e adaptar seus métodos as novas condições de tempo e da época.
-População deseja por mais educação escolar e a imposição das necessidades de local e de tempo para que essa educação seja melhor.
-Esboço de providências, tendo em vista meios e fins para a educação nacional:
            •  Descentralizar administrativamente o ensino;
            •  Mobilizar recursos financeiros para a educação;
            •  Estabelecer a continuidade do sistema educacional;
            •  Prolongar o período escolar ao mínimo de seis horas diárias;
            •  Alterar as condições de trabalho dos professores, novas remunerações;
            •  Eliminar todos os modelos e imposições oficiais que estão a produzir efeitos opostos aos previstos;
            •  Dois primeiros anos do curso secundário se faça como no ensino primário e com os melhores professores;
            •  Estabelecer exame de Estado de admissão para nível de escolarização;
            • Dividir curso superior regular em dois ciclos: o básico e o profissional;
           • Facultar no ensino superior a constituição de cursos variados de formação, em diferentes níveis, de técnicos e profissionais médios, prevendo possibilidade de poderem continuar os estudos e terminar os cursos regulares.

            Essas medidas seriam acompanhadas, por um vasto movimento de inquérito, onde objetivos seriam esclarecidos, deficiências reveladas, erros e os maus resultados corrigidos por renovação de métodos, aperfeiçoamento dos professores e melhoramento dos livros didáticos, materiais de ensino, laboratórios, prédios e tudo mais que completa o universo escolar.

Profª Drª. Rita de Cássia M. T. Stano
Alunas: Ângela Azevedo Morais
             Ana Carolina Carneiro Lopes

Um comentário:

  1. Um ótimo resumo para se perceber a atualidade de Anísio Teixeira.Parabéns!

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