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A ARTE DE SER AVÓ

Raquel de Queiroz

...Quarenta anos, quarenta e oito. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações - todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.

Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.

Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.

E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

RESUMO - CAP.7 – PRODUÇÃO, CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO: A CONEXÃO QUE FALTA

Livro- O que produz e o que reproduz em educação
            Ensaios de Sociologia da educação
Autor- Tomaz Tadeu da Silva
Editora-  Artes Médicas, 1992

            Uma das formas pelas quais as teorias têm feito a conexão entre educação e sociedade se dá pelas indagações:
Como as instituições educacionais têm distribuído conhecimento?
A quantidade / qualidade do conhecimento está disponível?
Quais pessoas ou grupos têm acesso a esse conhecimento?
            Nota-se que as teorias liberais ou marxistas nessa análise destacam as instituições educacionais como distribuidoras de conhecimento que atendem ou não as pessoas às quais o conhecimento é distribuído.
            Assim, o objetivo do capítulo é discutir as abordagens das limitações das teorias críticas e propor uma forma alternativa de análise das relações entre educação, conhecimento e sociedade.
            Percebe-se nos estudos das teorias críticas que a escola exerce o papel na produção do conhecimento dos indivíduos, com a finalidade de servir as necessidades do setor econômico da sociedade capitalista.
            Não se questiona o conhecimento que é oferecido mas a forma como é distribuído, o que favorece a desconexão entre produção de conhecimento, produção econômica e educação.

          O que está faltando nessas teoria é uma discussão dos diferentes tipos de conhecimento , uma contextualização das condições de sua produção e de sua ulilização  As análises convencionais têm-se mostrado inclinadas a tomar as definições existentes do conhecimento acadêmico  estabelecido como seu ponto de partida . Isto é conseqüência do fato de que as perspectivas marxistas têm permanecido , de forma paradoxal , extremamente  idealistas, carecendo de uma base realmente materialista para analisar as ligações entre a produção de conhecimento, seu uso na produção , e a educação.

           Nessa analise da relação entre educação e sociedade podemos destacar como limitações das teorias críticas algumas questões a respeito da produção / distribuição / consumo do conhecimento , como:

1)   O conhecimento é geralmente concebido como dado, falta uma discussão dos diferentes tipos de conhecimento; da contextualização de suas condições de produção / utilização e suas transformações.

2)   È dada uma  ênfase excessiva nos efeitos individuais na distribuição diferencial do conhecimento.

3)   A alocação de indivíduos na estrutura social é vista como resultado principal da manipulação do conhecimento, tendo em vista interesses de classes. Ao produzir indivíduos diferenciados através da distribuição diferenciada do conhecimento, a escola contribui para distribuí-los pelas diferentes posições na estrutura social.

4)   As escolas são concebidas como as únicas instituições distribuidoras de conhecimento, o que favorece deixar sem análise as outras formas pelas quais o conhecimento é distribuído e manipulado.

5)   O conhecimento que não se traduz em conhecimento escolar e as condições e consequências de utilização nunca chegam a serem discutidas.

6)   O conhecimento está disponível e é de livre acesso através das instituições escolares e seus meios, portanto essas instituições são as únicas distribuidoras do conhecimento e que são elas as donas da chave do acesso.

      Conclui-se que as teorias críticas da educação não tem nenhuma descrição ou análise das formas pelos quais o conhecimento que é importante para a produção econômica é produzido e distribuído.

     Assim, o autor sugere uma forma de avançar nas análises, através dos insights fornecidos pelas análises marxistas do processo de trabalho capitalista e do desenvolvimento da ciência e da tecnologia e sua incorporação pelo capital  que nos servirão de base materialista e assim superar a visão idealista e idealizada do conhecimento.  

     Porém é preciso destacar que o papel da educação nesse processo é raramente mencionado e quando o é, os autores não sabem como fazer as conexões apropriadas

     O que precisa de fato para fazer essa integração e um quadro de referência. Quadro esse organizado em torno da questão de como o conhecimento e a ciência que são essenciais para o capital são produzidos, apropriados, objetivados e distribuídos. Com questões bem diferentes das questões que são formuladas pelas teorias criticas da educação, questões como:
-   Que tipo de conhecimento e de ciência é essencial para a acumulação capitalista?
-   Onde e como esse conhecimento é produzido?
- Qual é o papel das instituições educacionais na produção e distribuição desse conhecimento?
-  Quais são as conexões entre o conhecimento  que é gerado e usado na produção e o conhecimento que é organizado e transmitido pelas instituições educacionais?
- E qual o papel  de tudo isso no processo de reprodução cultural e social e de manutenção da hegemonia de classe?
-  Qual é o papel das instituições educacionais nesse processo.
-  Quais são as conexões entre as instituições e as empresas capitalistas para a produção de ciência e tecnologia e de suas incorporação como capital?

         Outro elemento que deve constar no quadro é uma compreensão do circuito “produção – apropriação – distribuição – consumo” do conhecimento técnico.

          Supõe-se que todo tipo de conhecimento está prontamente disponível para distribuição através da educação. O currículo é então reduzido a um problema de seleção, porém o conhecimento e a ciência produzido sob as condições do capital não estão disponíveis para livre distribuição, estão protegidos por patentes e licenças que garantem o monopólio de seu uso e distribuição. Assim o quadro deveria considerar todo o circuito que vai da produção do conhecimento a seu uso, destacando o papel das instituições escolares nesse processo.

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