Livro- O que produz e o que reproduz em educação
Ensaios de Sociologia da educação
Autor- Tomaz Tadeu da Silva
Editora- Artes Médicas, 1992
Uma das formas pelas quais as teorias têm feito a conexão entre educação e sociedade se dá pelas indagações:
— Como as instituições educacionais têm distribuído conhecimento?
— A quantidade / qualidade do conhecimento está disponível?
— Quais pessoas ou grupos têm acesso a esse conhecimento?
Nota-se que as teorias liberais ou marxistas nessa análise destacam as instituições educacionais como distribuidoras de conhecimento que atendem ou não as pessoas às quais o conhecimento é distribuído.
Assim, o objetivo do capítulo é discutir as abordagens das limitações das teorias críticas e propor uma forma alternativa de análise das relações entre educação, conhecimento e sociedade.
Percebe-se nos estudos das teorias críticas que a escola exerce o papel na produção do conhecimento dos indivíduos, com a finalidade de servir as necessidades do setor econômico da sociedade capitalista.
Não se questiona o conhecimento que é oferecido mas a forma como é distribuído, o que favorece a desconexão entre produção de conhecimento, produção econômica e educação.
O que está faltando nessas teoria é uma discussão dos diferentes tipos de conhecimento , uma contextualização das condições de sua produção e de sua ulilização As análises convencionais têm-se mostrado inclinadas a tomar as definições existentes do conhecimento acadêmico estabelecido como seu ponto de partida . Isto é conseqüência do fato de que as perspectivas marxistas têm permanecido , de forma paradoxal , extremamente idealistas, carecendo de uma base realmente materialista para analisar as ligações entre a produção de conhecimento, seu uso na produção , e a educação.
Nessa analise da relação entre educação e sociedade podemos destacar como limitações das teorias críticas algumas questões a respeito da produção / distribuição / consumo do conhecimento , como:
1) O conhecimento é geralmente concebido como dado, falta uma discussão dos diferentes tipos de conhecimento; da contextualização de suas condições de produção / utilização e suas transformações.
2) È dada uma ênfase excessiva nos efeitos individuais na distribuição diferencial do conhecimento.
3) A alocação de indivíduos na estrutura social é vista como resultado principal da manipulação do conhecimento, tendo em vista interesses de classes. Ao produzir indivíduos diferenciados através da distribuição diferenciada do conhecimento, a escola contribui para distribuí-los pelas diferentes posições na estrutura social.
4) As escolas são concebidas como as únicas instituições distribuidoras de conhecimento, o que favorece deixar sem análise as outras formas pelas quais o conhecimento é distribuído e manipulado.
5) O conhecimento que não se traduz em conhecimento escolar e as condições e consequências de utilização nunca chegam a serem discutidas.
6) O conhecimento está disponível e é de livre acesso através das instituições escolares e seus meios, portanto essas instituições são as únicas distribuidoras do conhecimento e que são elas as donas da chave do acesso.
Conclui-se que as teorias críticas da educação não tem nenhuma descrição ou análise das formas pelos quais o conhecimento que é importante para a produção econômica é produzido e distribuído.
Assim, o autor sugere uma forma de avançar nas análises, através dos insights fornecidos pelas análises marxistas do processo de trabalho capitalista e do desenvolvimento da ciência e da tecnologia e sua incorporação pelo capital que nos servirão de base materialista e assim superar a visão idealista e idealizada do conhecimento.
Porém é preciso destacar que o papel da educação nesse processo é raramente mencionado e quando o é, os autores não sabem como fazer as conexões apropriadas
O que precisa de fato para fazer essa integração e um quadro de referência. Quadro esse organizado em torno da questão de como o conhecimento e a ciência que são essenciais para o capital são produzidos, apropriados, objetivados e distribuídos. Com questões bem diferentes das questões que são formuladas pelas teorias criticas da educação, questões como:
- Que tipo de conhecimento e de ciência é essencial para a acumulação capitalista?
- Onde e como esse conhecimento é produzido?
- Qual é o papel das instituições educacionais na produção e distribuição desse conhecimento?
- Quais são as conexões entre o conhecimento que é gerado e usado na produção e o conhecimento que é organizado e transmitido pelas instituições educacionais?
- E qual o papel de tudo isso no processo de reprodução cultural e social e de manutenção da hegemonia de classe?
- Qual é o papel das instituições educacionais nesse processo.
- Quais são as conexões entre as instituições e as empresas capitalistas para a produção de ciência e tecnologia e de suas incorporação como capital?
Outro elemento que deve constar no quadro é uma compreensão do circuito “produção – apropriação – distribuição – consumo” do conhecimento técnico.
Supõe-se que todo tipo de conhecimento está prontamente disponível para distribuição através da educação. O currículo é então reduzido a um problema de seleção, porém o conhecimento e a ciência produzido sob as condições do capital não estão disponíveis para livre distribuição, estão protegidos por patentes e licenças que garantem o monopólio de seu uso e distribuição. Assim o quadro deveria considerar todo o circuito que vai da produção do conhecimento a seu uso, destacando o papel das instituições escolares nesse processo.
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