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A ARTE DE SER AVÓ
Raquel de Queiroz
...Quarenta anos, quarenta e oito. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações - todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis...
ângela, tudo é complexo. Até pensar ficou complexo. A complexidade do currículo então... É difícil trabalhar com desordens e incertezas, mas tenho certeza que você gostará dessa poesia:
ResponderExcluirComplexo de Deus...
O que é o homem,
Verdadeiramente
Um anjo ou um demônio?
Um tudo ou um nada?
Com seus pensamentos
Pode alçar vôos de alegrias
E alcançar os céus
Como pode lançar-se no abismo
Da tristeza
Afundando-se no inferno
Mais horrível fica
Quando retoma a consciência
Que é um ser banal e limitado
Finito, pequeno e iludido
Com um enorme complexo
De superioridade sobre tudo
E todos os outros seres
Pobre homem sofre de complexo de DEUS
de ALICE LUCONI NASSIF.
Abraços,
Paullus.
Da mesma forma como Morin instiga, seu texto instigou Paulo e me instiga também a registrar aqui a qualidade de suas reflexões.Talvez aqui esteja um pensar complexo.
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